segunda-feira, 14 de abril de 2008

a trabalheira que dá...



o mercado de usados é complicado.


todos queremos um carro novo, de preferência de gama alta, com estofos em cabedal, climatização, rádio xpto e coisas do género.


mas nem todos tem possibilidades de adquirir tal máquina, até porque, além de um carro novo, bem equipado, pouco poluente, com boas performances, também não queremos exactamente o novo clio, ou talvez ou 207.


acabamos sempre por sonhar com o novo S, ou talvez com um belo Carrera na nossa garagem.


ora, como nem todos conseguimos alcançar o poder económico para tal, lá temos que, se queremos aceder a uma gama mais alta, ao mercado de usados.


aí, já se vê de tudo e a todos os preços, mas não é só felicidade. traz logo as suas complicações.


bem, aí, sempre podemos alcançar um 206, semi-novo. é um carrito jeitoso, com boas curvas, que faz boa figura e os preços até não nos obrigam a correr.


é um carro jeitoso "para começar".


é claro que o 206 não é uma maravilha. até se comporta bem, mas tem motores fraquitos. económicos, mas fraquitos e a qualidade de construção tem muito para se lhe apontar. acaba por andar pouco, fazer muito ruído e acaba por ser pouco mais que um carro. depois, com a idade, vai perdendo o estilo.


quem diz um 206, diz toda a classe de citadinos.


nesta altura, nós queremos é algo superior.


é claro que, com o orçamento que temos, ou conseguimos a sorte grande e conseguimos um optimo negócio, ou temos que procurar por modelos mais antigos.


isso não nos chateia, de forma nenhuma.


um modelo mais antigo daquela classe tem sempre estilo e bons motores e, como sempre tem uma melhor qualidade geral, os ruídos nem se vão ouvindo.


são carros fiaveis e fazem-nos felizes. afinal de contas, quem é que não quer um Gilf, um A3, ou até pequeno Classe B.


é claro que, com a idade, após alguns quilómetros, a idade nota-se. começam a ouvir-se alguns barulhos, levamos ao mecânico, e pá, lá vai um radiador.


ou então o sistema electrico que precisa de ser substituído.


normalmente, tem mazelas pequeninas e precisam de alguma manutenção que, 20 euros aqui, 30 euros ali, e lá se vai uma pequena fortuna.


a isto acrecenta ainda o facto de, sendo modelos ,mais antigos, impõe-se um modelo a gasolina, para não ficarmos parados na estrada, e eles são gastadores.


assim, talvez fosse bem melhor comprar um desses citadinos novo em folha, a crédito. ao menos, por uns dois ou três anos, não temos grandes problemas com eles.


é claro que ainda há outros usados compráveis. são os classicos.


carros ainda mais antigos.


estes, tem duas categorias: aqueles que estão em melhor estado que carros acabados de sair do stand, que acabam por custar mais que um belo desportivo acabado de sair do stand, e os outros.


estes, são de outra gama, concerteza.


é a hipótese que muitos tem de, finalmente, comprarem um Mercedes, um BMW, ou até um Triumph.


são carros de outras eras e isso nota-se. normalmente, tem bastantes riscos na pintura e algumas batidas na chapa. os motores precisam de arranjo, os estofos estão rotos e, em relação ao comportamento, nem se compara a alguns carros já com os seus dez anos.


é claro que estes carros só tem duas espécies de donos.


o primeiro tipo é o típico gajo que não tem dinheiro para comprar um carro novo nem pouco mais ou menos. mas também se está a cagar para isso. vai comprar um carro velho e vai acabar por usá-lo até à sua morte porque não está interessado em arranjá-lo. usa até à morte.


depois, há aqueles que gostam mesmo desses carros antigos.


eles compram o carro. compraram barato, é certo, mas sabem que o carro, com todas aquelas mazelas, não lhes dá estilo nenhum.


também não é assim que o querem.


estes, compram o carro e sabem que o processo não acaba aí.


sabem que é preciso tratar a chapa, sabem que é preciso uma pintura nova e umas quantas peças que faziam falta.


estes homens acabam por gastar ainda mais dinheiro do que se comprassem um Mercedes novo, e tem muito mais trabalho pois tem de o recosntruir de forma praticamente integral.


sabem que demora tempo a fazer uma coisa destas. o próprio carro, se tivesse consciência, provavelmente nem entenderia aquela dedicação que lhe é devotada.


na verdade, nem o carro, nem ninguém.


mas estes homens gostam deste processo. para eles, é mais que ter um carro com estilo, é mais que arranjar o carro para andar. é amar o carro apesar da chapa batida e do motor que não funciona muito bem e trabalhar para o pôr novo outra vez.


serão loucos, ou apenas apaixonados?




(espero que tenham percebido a analogia)

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