ele já estava farto daquela pieguice.
sempre a mesma merda, sempre a mesma música.
e o pior é que não conseguia calá-lo.
bem que tentava, mas não conseguia.
falava mais alto. nem as noites de garrafas atrás de garrafas pareciam surtir o efeito que ele procurava.
doía-lhe aquele órgão que não se calava.
sempre a pedinchar, sempre a sofrer.
então levantou-se e decidiu fazer alguma coisa. seria aquela a última noite em que iria sentir aquela dor.
recusava-se a senti-la, assim como se recusava a deixar-se vencer por ela.
dirigiu-se para a cozinha.
antes de mais, procurou a garrafa de whisky. afinal de contas, estas coisas não se fazem a frio.
encheu o copo e bebeu tudo de um só trago.
então, depois de ganha a coragem, abriu a gaveta, tirou a faca e espetou-a no peito.
rasgou a carne, para cima e para baixo para que ficasse um buraco bem grande.
então, enquanto rojava o sangue que lhe estava a sujar o chão e o balcão que há pouco tinha limpado, enfiou as mãos no peito até o agarrar.
aí, puxou com toda a sua força. já não lhe doía, mas estava preso.
estava, pois com o maior dos vigores, arrancou-o de uma só vez.
e depois de o arrancar, segurou-o bem acima do peito, olhando para ele, enquanto ainda batia.
não parava.
estava ele morto e também o devia estar aquele órgão inútil, mas não. ele continuava de pé e o seu coração nas suas mãos continuava a bater.
nem fora do seu corpo ele deixava de se lamentar.
tinha de se descartar dele. era a única forma de deixar o sentir, mas como?
iria enterrá-lo em algum lugar? iria guardá-lo numa qualquer arca?
então, e se ainda precisasse dele?
foi aí que ele o atirou para a frigideira.
deixou-o fritar em óleo, juntou-lhe cebola cortada, óregãos e um molhinho bechamel.
sentou-se na mesa, abriu uma garrafa de tinto e devorou-o.
afinal de contas, assim , não lhe voltaria a trazer problemas...
1 comentário:
E se ele voltou ao sítio??? :P
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